sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

De afeminadas a superfemininas

De afeminadas a superfemininas


Ale Saraiva assina a coluna Trans-E. 
Trans-e ("trans" de transexual, "e" de e-mail, transe de "mudança de estado" e transe de ter relações sexuais - transar).
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  Falar de passabilidade, este termo que muito se ouve nos meios trans/travestis, e que indica o grau, que pode ser medido através de percentuais, o quanto somos femininas e confundíveis com mulheres genéticas é, com certeza, um desafio.
A passabilidade é praticamente uma benção a travestis e transexuais, por que nos dá a falsa, e me perdoem usar esta palavra, mas é falsa mesmo, sensação de liberdade. Uma pessoa trans que chegue ao tão sonhados 100% passável pode se dar ao luxo de ir e vir desapercebida, passando batida e sem medo ao lado do preconceito.
Porém, essa liberdade é falsa a partir do momento que se encobre à realidade, obrigando a pessoa a viver numa clausura intima. Ao menor sinal de ser descoberta, em seu mais íntimo segredo, a trans/travesti deixa de viver as glórias da mulher biológica e passa a ser relegada a segundo plano, tendo a construção da sua imagem associada à marginalidade.
Essa é uma grande verdade que tod@s estamos suscetíveis de viver. Ainda não sou 100% passável, mas meu grau de passabilidade já me permite ser respeitada por onde eu for. Péssimo falar nestes termos, mas sabemos tod@s o que acontece enquanto estamos em inicio de transição, fase andrógina, ou mantemos traços fortes do fenótipo masculino (ou feminino para transexuais mulher para homem) e os esforços que fazemos para nos tornar femininas, até mesmo superfemininas, ou supermasculinos, às vezes entrando numa neura de querer provar aos outros o que realmente somos.
 
 
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  Anteriormente éramos meninos gays afeminados, a partir da compreensão da identidade feminina e da decisão à transição, vamos aos poucos nos tornando mulheres e deixando o estigma da “bichinha” de lado para adquirir o estigma da “travesti marginal”. Os preconceitos de outrora dão lugar a novos preconceitos, e os xingamentos dos rapazes vão cedendo lugar aos assobios frenéticos e ao desejo reprimido de nos possuir.
A grande questão é que, até que cheguem aos 100% passáveis, a menina ou o rapaz trans sente uma série de conflitos e rejeições e convive diariamente com crises de baixa auto-estima. Para se livrar deste incomodo, muitos mergulham no álcool ou nas drogas, no consumismo exagerado ou mesmo criam uma capa vitimista que os paralisam diante da vida.  Muitas vezes, não nos reconhecemos em atos autodestruidores, como paixões platônicas, autorejeição, autosabotagem e quando nos damos conta, estamos mergulhados em depressões ou com uma visão negativa da vida, achando que o mundo gira contra nosso favor.
Ainda na conquista da superfeminilidade, surgem os exageros do estereotipo feminino ou masculino, que se apresenta através do excesso de hormônios, do excesso de plásticas, de anorexias ou ansiedades patológicas e muitas outras representações da falta de auto-aceitação e também da falta de auto-afirmação.
A auto-aceitação proposta aqui está longe de ser a conformação com a situação a que se está relegado. Auto-aceitação consiste na conscientização da sua situação real, sem maiores ou menores tormentos, e de posse dessa consciência, tirar vantagens de si mesmo, tornando-se um ser melhor. Aceitar como diz o dicionário é admitir, se quiser ampliar esta visão, receber com agrado. Admitir que somos mulheres ou homens com especialidades e não se enganar que nascemos biológicas, foi só o tempo que errou.
Pra quem acredita no Divino, receber com agrado a dádiva de ser transexual. Mesmo com todas as mazelas que se apresentam, pois ninguém pode duvidar de que, após todo sofrimento, nos tornamos pessoas melhores e mais humanas, ao menos aquelas que souberam aproveitar bem as lições, sem vestirem a capa vitimista do “eu não mereço isso”.
Essa aceitação de si mesmo e da sua realidade, diminui as ansiedades em relação ao futuro, principalmente àquelas pessoas que estão à beira do suicídio caso não realizem logo a SRS, ou cirurgia de mudança de sexo. Podemos sim, e até devemos, viver bem, na medida do que nos é possível, conosco e nosso corpo, assim mesmo como ele se apresenta agora, por que mais triste é anular a própria vida para ilusoriamente querer viver depois da cirurgia, como se fosse exclusivamente isso que fosse mudar pra sempre a nossa vida.
Não deixe para perceber amanhã a beleza da sua transformação. Hoje estou eu aqui, com peitinhos púberes, pêlos me comendo o rosto, músculos ainda salientes, sem ter a mínima noção de como concretizar minha SRS, mas seguindo todos os dias dando graças ao Universo por estar viva e podendo ver estas mudanças acontecerem, por que um dia eu vou poder olhar pra trás com um sorriso no rosto e dizer: Venci! E não precisei chorar por todo o caminho, pois tive a graça de acordar e ver muitas flores onde os espinhos espetavam, e dei muitos risos onde muitos, que não tinham o meu problema, choravam.
Que possamos viver em paz desde já. Feliz Natal a Tod@s e um Próspero Ano Novo.
E você? Ta esperando o que para descobrir a beleza que você é hoje, agora neste momento? Está esperando o que para se olhar no espelho e ver que hoje você não é o que queria, mas compreende que pode e vai ser melhor? Não deixe pra viver os sonhos depois, quando não puder mais concretizá-los, ou quando não fizer mais parte da Terra. Sejamos felizes agora, vamos lá?
 
Ale Saraiva
São Paulo, 1º de Dezembro de 2005.
Dúvidas, críticas, comentários, depoimentos:
mande um e-mail:   colunatranse@yahoo.com.br

Ale Saraiva tem 27 anos, é amazonense, mora em São Paulo, é Administradora de Empresas e trabalha como Designer Gráfico. Amante da Sexologia, Psicologia Transpessoal e da PNL, em 2000 iniciou um estudo sobre o comportamento homossexual e Continua se descobrindo como Transexual.
Para conhecer mais: http://www.ablogada2.theblog.com.br/

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